Sonho do menino no sertão

De longe se pode ver o calor que a terra exala,quase como fogo estala. E com pés quase descalços rachando a estrada sempre torta a poeira pouco levanta para levar a vida quase morta. E de repente o corpo entorta,para não bater de porta em porta buscando ajuda sem resposta,pois quem não tem quase nada por maior que seja a vontade não pode dar o que não comporta. Em resistir o corpo teima,como o fogo a terra queima,a paisagem arde e ensina que o pouco que temos é muito para quem precisa. A única água que surge e escorre ate a boca é a dos olhos a chorar,tão salgada quanto a do mar e a cede não pode saciar. Quando surge no horizonte lentamente a caminhar com o mormaço inflamável e a poeira a levantar,é a água a chegar na cabeça a carregar com o sofrimento a transbordar,tão barrenta quanto lama mas a cede vai aliviar. Tudo é sempre a mesma coisa no sertão,não há como mudar a visão,os dias chegam sem razão e da mesma forma se vão. Prato vazio na mesa só é cheio com a tristeza que não satisfaz nem alimenta e vai além do que o corpo agüenta. A noite chega sem o sono,na barriga o vazio sem dono que deixa de lado o sonho e a vontade de acordar. E de repente surge água no sertão,as folhas não mais cairão,os animais não mais morrerão,até a poeira vira lama e a vida é mais doce do que o açúcar da cana. Na terra vermelha e seca já se pode plantar o pão nosso de cada dia para se alimentar. Na mesa farta os olhos a brilhar,a fome que custava em passar agora se vai sem pensar e demora a voltar. A manha chega sem hesitar para acordar o menino do sonho que não pode mais sonhar. Um novo dia é chegado e a velha realidade tem de se encarar.