Todos os dias

Todos os dias eu olho para o nada, sinto o vento em meu rosto e não consigo encontrar o meu lugar, não consigo enxergar um futuro em mim. Vejo tudo que passei, o pouco que evolui, o muito que aprendi e o pouco que coloquei em prática. Não me sinto seguro onde estou, é cada vez mais incerto para onde vou, cada dia é mais doloroso do que o anterior. Ao olhar para meu interior só encontro mentiras, vergonha e arrependimento mas também há coisas boas. Não consigo tirar proveito o suficiente do que me aconteceu de ruim na vida, ainda levo muitas mágoas muitas dúvidas ainda me devastam. Todos os dias são como folhas ao vento, é sempre o mesmo diferente de sempre que nunca quis para mim e sempre corri atrás. Todos os dias pessoas me surpreendem e me fazem desacreditar cada vez mais nelas, em mim mesmo e em tudo que acredito. Todos os dias a fumaça é a mesma, a mentira estampada rasteja, o medo fareja algo novo, o mar continua a devastar e eu a dar passos na areia. Todos os dias os sons mudam, os lugares saem do lugar, o ócio permanece se confunde com a ferrugem, se corta como a pele que cobre toda a falta de pudor. Todos os dias trazem a mesma indignação, a mesma insônia nas noites, o mesmo gosto na boca do que não gosto, o mesmo cheiro a andar por diferentes ruas. Todos os dias são as mesmas palavras ditas de formas contrárias, carregando o mesmo significado sem fundamento e ninguém a perceber. Todos os dias tudo está a crescer os valores a diminuir, a inércia a permanecer estática sem estatísticas que aumentem a verdade dentro de nós. Todos os dias mesmo com tudo em minhas mãos algo me falta, algo custa a me completar e me força a errar cada vez mais sem poder olhar e aprender com meus erros. Todos os dias eu me torno obsoleto de um novo jeito e descubro uma outra nova maneira de representar o meu próprio papel. Todos os dias é sempre o mesmo suor cansado, uma nova chance perdida, um trabalho inacabado, o mormaço que sobe do chão trazendo toda a ilusão do próximo dia.