O pior de tudo é secar, é não conseguir sequer chorar,
É não poder colocar para fora,
É ter que viver com todo o passado aprisionado dentro de si.
O pior de tudo é não poder medir a força das lembranças,
É perder o sono e não conseguir dormir,
É fechar os olhos e ter tudo de volta novamente
E ao abrir encarar a crua realidade que se depara com a ausência.
O pior de tudo é não esquecer os momentos,
É lembrar das coisas boas, é não poder voltar no tempo,
É sentir o cheiro do corpo, o toque das mãos,
O sabor dos lábios, as palavras no olhar,
É ter que encarar uma dor sem som,
É ter que se levantar de um buraco sem fundo
Cavado por mim mesmo.
O pior de tudo é lembrar.
É tentar continuar e ter que se entregar novamente
Sem a mesma força e o mesmo ânimo de antes,
Sem a mesma certeza de antes, sem o mesmo brilho no olhar,
Sem o inquietante tremor na respiração
Que me fazia viver cada milésimo de segundo
De minha vida como ninguém,
Que me causava uma agonia sem dor e sem medo.
O pior de tudo é saber que a felicidade não é plena
E ter a sensação quase como certeza
De que ela já passou por minha vida e não volta mais.
Não importa o que eu faça, diga ou sacrifique,
Nada será como antes, nada terá o mesmo gosto de antes,
Nada nem ninguém terá o poder de antes.
O poder de me fazer se entregar,
De fechar os olhos e apenas ouvir,
De confiar e simplesmente pular,
Sem medo ou receio.
O pior de tudo não é ter que caminhar sozinho
Mas sim ter que seguir pelo mesmo caminho
Que antes era tão belo e puro e hoje se tornou
Sem cor e vazio.
O pior de tudo é não ter a mesma graça no sorriso,
É não ter o que eu preciso para sorrir, viver e ser feliz.
O pior de tudo é passar por algum lugar qualquer e não lembrar,
É sentir o cheiro e não voltar, é ouvir uma música e não chorar,
É fechar os olhos e não se imaginar ao seu lado novamente,
O pior de tudo é se achar deprimente e se tornar dependente
Como uma droga, é necessitar simplesmente da voz,
É amar um amor que não existe mais,
É viver em um tempo que já morreu,
É estar em uma vida que já passou.
O pior de tudo é não seguir em frente,
É se sentir dormente, é se encontrar ausente,
É perder todo o brilho e a pureza,
É ter que traçar sozinho o passo a minha frente,
É ter que encarar a tristeza que me devora,
Que me corrói por dentro como ferrugem.
O pior de tudo é não encontrar a saída,
É não se acostumar com a despedida,
É não aceitar a partida, é perder os sentidos
E não poder voltar ao início para poder
Reviver tudo novamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário