No chão de minha vida, eu mesmo já cavei vários buracos
Alguns, pequenos deslizes, outros, enormes abismos quase sem fim.
Já construí montanhas as quais escalei
E também já criei pedras as quais tropecei.
No chão de minha vida eu já sangrei gota a gota todo o meu fim
Até secar por inteiro. Já misturei lágrimas com a poeira,
Algumas de dores, outras de vitórias, mas todas necessárias.
No chão de minha vida já caminhei sob espinhos,
Já dei passos incertos e já voltei de caminhos sem volta.
Já nadei contra correntezas que me venceram mas não me superaram.
No chão de minha vida já perdi o equilíbrio,
Já cai e me levantei sozinho sem ajuda alguma.
Já plantei meu alimento e também meu próprio veneno.
No chão de minha vida eu vi com mais clareza as paisagens
Que nas alturas não me vinham aos olhos,
Desfrutei de sabores que o doce não me proporcionou,
E transformei fel em mel.
No chão de minha vida o declínio já me tragou,
A angústia já criou raízes em meus pés,
já vi sucumbir toda a alegria que existia em mim,
toda a força que eu possuía, toda a vontade de continuar,
toda a razão que me movia,
mas não levou a minha vontade de viver
e nem a minha capacidade de ser feliz.
No chão de minha vida já dancei com a solidão,
Já enviaram moscas as minhas feridas ao invés de cura,
Já senti a mentira podre e a verdade crua.
No chão de minha vida eu só pude descobrir novos caminhos
Quando eu me encontrava perdido, só deixei minhas próprias pegadas
Quando não haviam rastros para serem seguidos.
O chão de minha vida já caiu várias vezes sob os meus pés,
Já me esmagou contra o teto, já fez de mim um inseto,
Já devorou o feto em mim, já consumiu o meu fim
Antes mesmo dele chegar, já mostrou consumado
O que ainda não tinha acabado,
já me fez dar o lado oposto da face para bater.
O chão de minha vida já me fez descer o mais baixo
Que um ser pode chegar de si mesmo,
Abaixo de um verme e seu rastejo.
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